quinta-feira, 8 de julho de 2010

* NOVAS LEIS DA RÁDIO E DA TELEVISÃO: UM ABSURDO!

Ontem, quarta-feira, dia 7 de Junho, a Assembleia da República avaliou e discutiu na generalidade, duas propostas de Lei e dois projectos de Lei da maior importância para o futuro da Comunicação Social portuguesa.

Em causa, estão duas propostas do Governo, sendo uma a que visa aprovar uma nova Lei da Rádio e, a outra, a que revê a Lei da Televisão. Assim como, um projecto do BE - Bloco de Esquerda no sentido de proceder à alteração da Lei sobre os Estatutos da RTP e outro do PCP - Partido Comunista Português para a revisão do Estatuto do Jornalista.

Na passada legislatura, com o veto do Presidente da República, havia sido gorada a chamada Lei da Não Concentração de Meios, a qual definia regras sobre a transparência da propriedade e estabelecia alguns limites, embora insuficientes, quanto à Concentração de Meios.

De novo, o Governo veio, agora, pretender contornar o "problema", regulando essas matérias nas propostas de Lei da Rádio e da Televisão que fez subir ao Parlamento.

O recurso agora usado, para não dizer a “estratégia”, traduz, supostamente, o propósito de alargar as normas sobre transparência da propriedade dos órgãos de informação e sobre a não Concentração de Meios. No entanto, tais objectivos, definitivamente, não são alcançados com estas propostas.

Pelo contrário. Se vierem a ser aprovadas, o Governo cede completamente aos interesses instalados que ambicionam um quadro em que seja possível ainda uma maior concentração dos meios.

De facto, só no que diz respeito à Lei da Rádio, a proposta apresentada passa o actual limite de cinco rádios que podem ser detidas pela mesma entidade para nada menos de 34 rádios de âmbito local, a que acresce um número ainda indeterminado de rádios regionais mas que pode chegar à dezena.

Poderá argumentar-se, para atenuar o efeito da concentração, que a proposta contém a garantia de que as rádios pertencentes à mesma entidade não podem operar em áreas contíguas, mas essa garantia, para além de muito fraca, é inconsistente, pois, como é do domínio público, inúmeras são as emissões locais sintonizadas, escutadas, a longas distâncias, chegando a ultrapassar vários municípios.

Só a título de exemplo, a Rádio Voz de Almada, em Almada, na Região da Grande Lisboa, é sintonizada, com boa qualidade, ao longo da costa algarvia…

O enorme poder de intervenção no espaço público que fica aberto aos Grupos de Media não se circunscreve apenas à titularidade das empresas de rádio, uma vez que as permitidas emissões em cadeia e a colaboração entre rádios adensam, sobremaneira, a possibilidade de controlo de um número ainda mais vasto de estações emissoras.

Neste contexto, são, desta forma, potenciados os riscos de redução da diversidade e do pluralismo, transformando-se as rádios em meros repetidores de emissões uniformizadas e centralizadas num posto único de produção de conteúdos – informativos e outros – e de comando da sua difusão, divorciadas das realidades locais, que é suposto servirem.

Com a adopção deste quadro, ficam criadas, também, as condições objectivas para aumentar o desemprego dos jornalistas e de outros trabalhadores, o que compromete o objectivo de profissionalização que o Governo diz pretender: com conteúdos produzidos numa central e distribuídos "a granel", será maior a tendência para reduzir os quadros privativos das Estações de Rádio.

Mas o desiderato manifestado de fomentar a profissionalização no sector sai totalmente gorado quando, a par da redução de postos de trabalho que a maior concentração se propõe gerar, introduz a possibilidade objectiva de substituir jornalistas profissionais por meros colaboradores em nada menos de metade do tempo diário de informação. O que já se verifica em muitas rádios locais…

Já quanto à Televisão, o Governo introduz limites muito generosos para a Concentração de Meios: 40% das licenças na mesma área de cobertura, sendo a proposta de lei omissa quanto à acumulação de licenças de televisão no resto do país e, também, quanto à acumulação com licenças de rádio.

Objectivamente, o Governo abre o caminho para uma ampla concentração de licenças de rádio e de televisão nas mãos de um reduzido número de detentores.

Por outro lado, o Governo tem repetido, e o ministro dos Assuntos Parlamentares deu garantias nesse sentido, que não pretende e não prevê a privatização da Rádio e Televisão de Portugal, mas, na sua proposta de lei, elimina a garantia de que o serviço público de radiodifusão seja assegurado pela Rádio e Televisão de Portugal, SA, empresa de capitais públicos, e deixa a Lei da Televisão omissa quanto à titularidade da concessionária.

Neste contexto, objectivamente, segundo o SJ – Sindicato dos Jornalistas, subsiste o entendimento claro de ser chegada a hora da clarificação de posições do poder político neste domínio: as Leis da Rádio e da Televisão devem estabelecer expressamente que os serviços públicos de rádio e de televisão sejam assegurados por empresas de capitais exclusivamente públicos, pois só assim ficam consagrados os fins para que os mesmos foram criados.

No que se refere ao projecto de alteração aos Estatutos da RTP, apresentado pelo BE - Bloco de Esquerda, circunscreve-se a duas únicas questões: uma sobre a forma de escolha do presidente do Conselho de Administração da Empresa, prevendo que seja eleito pela Assembleia da República por maioria de dois terços e, a outra, sobre o Programa Estratégico do presidente, prevendo que o mesmo seja aprovado pelo Parlamento.

Se, no que concerne à primeira questão, o projecto é positivo, traduzindo, aliás, uma antiga proposta do próprio Sindicato dos Jornalistas, já quanto à segunda é susceptível de suscitar algumas reservas, especialmente que seja a Assembleia da República a aprovar objectivos como sejam as audiências.

Já quanto ao projecto de alteração do Estatuto do Jornalista, apresentado pelo PCP - Partido Comunista Português, designadamente no que respeita a normas sobre os direitos de autor, competências e direitos dos membros dos conselhos de redacção e direitos e garantias dos jornalistas no exercício da profissão, incorpora, também, propostas e posições assumidas pelo Sindicato dos Jornalistas, as quais procuram corrigir as alterações aprovadas na legislatura anterior. No entanto, o Sindicato dos Jornalistas considera e reconhece, ainda, que o Estatuto do Jornalista carece também de alteração noutras matérias.

Conclusão

O Primeiro-Ministro, o Governo e o Partido Socialista, como se pode verificar através dos seus Diplomas que, hoje, vão estar em discussão na Assembleia da República, embora se apresentem “travestidos de inocentes cordeirinhos”, continuam a insistir e a persistir em, directa ou indirectamente, de uma forma agressiva e obstinada, exercer um controlo efectivo e rígido sobre os meios de Informação, com efeitos redutores e de coação sobre os seus profissionais.

Efectivamente, quando um Primeiro-Ministro, como José Sócrates, pensa uma coisa, depois diz outra para concluir de forma diferente, como nos tem habituado ao longo dos seus mandatos, já tudo é de esperar quanto à sua “boa fé”.

Nomeadamente, depois de termos assistido aos vergonhosos casos Mário Crespo, Manuela Moura Guedes e ainda o “Caso PT / TVI”, assim como à perseguição desmedida a alguns jornalistas, com a colaboração de encobrimento do Procurador-Geral da República, que, depois, acabaram por ver, como hoje, os processos arquivados…

Os Diplomas, agora, apresentados pelo Governo à Assembleia da República, constituem uma forma “hábil e inteligente” de contornar o veto presidencial da legislatura anterior, assim como de violar, objectivamente, a Constituição da República, ludibriar o Presidente da República e os restantes partidos políticos, assim como os Portugueses incrédulos, ultrapassando o próprio Estado de Direito Democrático...

A serem aprovados, pela Assembleia da República, na generalidade e, depois, na especialidade, os Diplomas que vão ser discutidos hoje, ainda nos resta a intervenção do Presidente da República que, de boa fé, poderá ser influenciado pela sua homologação final…

Estará o Primeiro-Ministro, José Sócrates, a querer, por caminhos paralelos, mas com os mesmos objectivos “imitar, mal e porcamente” os cenários da Venezuela e “os gloriosos feitos” de Hugo Chavez, no que concerne à Comunicação Social, particularmente às Televisões já encerradas?

Se não é, com os Diplomas que vão ser apreciados hoje, se aprovados, é para lá que caminhamos velozmente!

Boa sorte, Comunicação Social Portuguesa!

Boa sorte, Portugal!

3 comentários:

  1. Estimado Paulo Martins

    Cá estou a visitar este teu novo espaço, para em primeiro lugar parabenizar a sua abertura, uma vez que já fazias muita falta nos bloguespot.

    Quanto as questões levantadas, relativas ao funcionamento do espaço Sol.Sapo.Pt, e, como sugestão de amigo, dizer que não deverias encerrar o espaço, mas sim tornar o mesmo um divulgador dos teus trabalhos neste mesmo, pois nunca é demais a divulgação em vários locais, que uns visitam e outros não. No entanto a decisão obviamente que é tua.

    Relativamente a este importante assunto dizer que:

    Concordo em absoluta na importância da discussão, dizendo ainda que considero um absurdo o numero de rádios (34) que uma única entidade pode aglomerar. Quer o governo socialista calar a diversidade, promovendo uma desavergonhada junção nas mãos de uma meia dúzia de magnatas.

    Para quem como eu lutou pela abertura das chamadas rádios livres, isso é mais do que uma afronta. Constitui o diluir de todos os sonhos e objetivos que nos levaram nos idos anos 80 do século passado, a lançar um movimento que ganhou expressão de liberdade de informação.

    Parece que voltamos aos saudosos tempos da ditadura.

    A questão que levantas, acerca do potencial risco de desemprego de jornalistas e técnicos, é mais do que real, é exato em termos objetivos, pois com esse aglomerar, na realidade só vai existir um local de emissão e difusão posteriormente trabalhado pelos chamados repetidores. Como base dizer que se agora para funcionarem 34 rádios, se necessita de equipas de no mínimo 2 a três funcionários por turno, partindo do principio que se exige um jornalista, um técnico e um auxiliar de produção, multiplicados por 34, isso dá a módica quantidade de no mínimo 102, isto sem contar com equipas de reportagem, etc... no futuro, esses mesmo 3 elementos conseguem colocar uma emissão no ar para 34 potenciais freqüências.

    Este numero que apresento será o mínimo, pois temos que multiplicar isso pelas muitas dezenas de rádios que vão sofrer essa terrível aglomeração.

    A nível informativo, nem sequer teremos a qualidade da diversidade, e a nível cultural, vai parecer um simples repetidor...

    Também acho que o objetivo final, para além daqueles que apontamos, será a privatização dos canais públicos. Eu pessoalmente não sou contra, mas acho que o Estado deve manter na sua posse, pelo menos, uma estação de rádio, e outra de Tv.

    A proposta do PCP é realmente boa, mas insuficiente, face ao muito que os jornalistas perderam de liberdade de direitos e garantias na sua função de informar com liberdade.

    Não concordo com a idéia de que Sócrates tente imitar na totalidade o seu “padrinho” venezuelano Huguinho, mas que tenta limitar a liberdade de informação, lá isso tenta, esquecendo no entanto que corre o perigo de aglomeração nas mãos de empresários contrários aos seus desígnios pessoais e políticos.

    Basta olhar para a sede que Balsemão tem em juntar mais matéria ao seu aglomerado informativo, ou até mesmo o genro do Presidente da Republica...

    Interessante vai ser a posição de cavaco sobre o assunto, quando for chamado a se pronunciar, ainda mais que mesmo de forma indireta, é parte interessada no assunto.

    Saudações amigas

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  2. Caro Paulo Martins
    Parabéns pelo seu blogue, que seguirei com interesse.
    Um abraço amigo
    Francisco Seixas da Costa

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  3. Caríssimo Paulo Martins:

    Os meus parabens por mais este espaço de luta pela liberdade, nas suas várias vertentes.

    Concordo com João Massapina. O meu bom amigo não deve abandonar o seu blogue no "Sol", pois ésempre mais um canal de luta pela liberdade e pelos Direitos Humanos, de que tanto carecemos.

    Quanto ao que reporta, pois claro que é mais uma afronta à liberdade por parte do governo e do PS, cujo líder (Sócrates) tem todos os tiques de um ditador e que se prepara para frazer, na prática, mais um "favorzinho" às suas empresas "amigas" na comunicação social.

    Esperemos que não passem não no Parlamento ou que, em última análise, o PR tenha a coragem de as vetar.

    Até lá, cumpre-nos, como homens livres, justos e de bons costumes, lutar contra tais propostas e projectos de leis.

    Um grande abraço solidário,
    Jorge da Paz Rodrigues

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Caríssimas(os),
Minhas (Meus) Boas (Bons) Amigas(os),

Antes de mais, queiram aceitar as minhas afectuosas saudações.

Uma nova postagem está à vossa disposição em e, como tal,faço chegar ao vosso conhecimento, podendo, inclusive, desde já, se assim o entenderem, para além da leitura, produzir os vossos comentários.

Bem Hajam!

Paulo M. A. Martins