quarta-feira, 14 de julho de 2010

* 19.Julho.2010 * 125º. Aniversário do Nascimento de ARISTIDES DE SOUSA MENDES * “O Maior Humanista do Século XX” * Património da Humanidade

125º. Aniversário do Nascimento de
ARISTIDES DE SOUSA MENDES
“O Maior Humanista do Século XX”
Património da Humanidade


* * *

“Tenho de salvar estas pessoas, tantas, quantas, eu puder.
Se estou a desobedecer a ordens,
prefiro estar com Deus e contra os homens,
do que com os homens e contra Deus.”

Aristides de Sousa Mendes



* * *


Paulo M. A. Martins
Jornalista


* * *


Se ainda estivesse no mundo dos vivos, entre nós, na próxima segunda-feira, 19 de Julho de 2010, Aristides de Sousa Mendes, ex-cônsul-geral de Portugal em Bordéus (França), comemoraria o seu 125º. Aniversário de Nascimento…
Mas, não está!

Com 69 anos de idade, Aristides de Sousa Mendes faleceu a 3 de Abril de 1954, doente, desonrado e na miséria. Para ser sepultado, tal não era o seu elevado grau de pobreza - paupérrimo, tiveram que lhe vestir a túnica de um frade franciscano, enquanto o ditador António de Oliveira Salazar, com o cinismo e a hipocrisia que lhe eram tão peculiares, além de mandar silenciar liminarmente a sua morte, fazia chegar às mãos do seu irmão gémeo, César de Sousa Mendes, também diplomata e que havia sido Ministro dos Negócios Estrangeiros do seu 1º. Governo, uma carta de condolências…
Entretanto, são já passados 56 anos…

Mas, se olharmos um pouco mais para trás, deparamo-nos com o maior Humanista do Século XX, hoje, Património da Humanidade e grande precursor dos Direitos Humanos, pois, mesmo desobedecendo, consciente e responsavelmente, às ordens do ditador Salazar, ousou salvar das garras das tropas nazis e do Holocausto mais de 30 mil seres humanos, dos quais cerca de 12 mil judeus.

Segundo Yehuda Bauer, perito e autor da História do Holocausto, Aristides de Sousa Mendes, “realizou a maior operação de salvamento de vidas humanas da História do Holocausto”!

Foi esse, só esse, o único “crime” que Aristides de Sousa Mendes havia cometido!


Preso pela História!


Em Bordéus (França), a História prendeu Aristides Sousa Mendes nas suas garras. O seu destino passou a estar indubitavelmente ligado ao destino, individual e colectivo, de dezenas de milhares de pessoas desaparecidas.

Assumiu-se como o homem certo, no lugar e no momento certo. Aquilo que muitos poderiam considerar como defeitos de personalidade num diplomata – a natureza demasiado emotiva e o seu carácter impulsivo - tornaram-se a força motora de um heroísmo sem precedentes.

Começou por desobedecer, frontal e decididamente, às ordens e directivas (célebre “Circular 14”, emanada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, cujo conteúdo conflituava objectivamente com a Constituição da República Portuguesa de 1933) do ditador António de Oliveira Salazar, então Presidente do Conselho de Ministros, acumulando com a pasta dos Negócios Estrangeiros, de quem, apesar de monárquico, sempre se afirmou seu defensor.

Sacrificou tudo quanto amava e prezava - uma família, uma carreira - por estranhos de quem se apiedou associando ao seu honroso desempenho a espiritualidade e a dignidade humana então raras, mas que, afinal, caracterizam o Povo Português.

Tudo isto e não só, numa altura, em que pairava a rebeldia pelo mundo, Aristides de Sousa Mendes não só era um digno diplomata como, também, se desenhava como o modelo do português crítico, o representante ideal da Nação que todos gostaríamos que Portugal sempre fosse.


Salvar mais de 30 mil seres humanos
em troca de doença, miséria e ostracismo…



Todavia, todas as honras lhe sejam prestadas, Aristides de Sousa Mendes, Cônsul-Geral de Portugal em Bordéus (França), é recordado por, com uma simples caneta e um carimbo, ter emitido, inclusive utilizando, na ausência de impressos, papel pardo de embrulho, vistos de entrada em Portugal a mais de 30 mil seres humanos, em Junho de 1940, sendo depois castigado por Salazar, que o afastou da carreira diplomática e o impediu de exercer, como meio de sobrevivência e de subsistência, a advocacia, lançando-o, inexoravelmente, na miséria e ao ostracismo, arrastando consigo a sua numerosa família…

Perante o avanço, incontrolável, do nazismo, o cônsul português em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes, deparou-se perante um dilema tão comum nessa época:

- Se, por um lado, era impossível esquecer a multidão de refugiados perseguidos por Hitler e as suas tropas, aos quais ele próprio – sabia-o bem – poderia abrir as portas da salvação e da liberdade;

- Pelo outro, era claro que ao abrir essas portas, ele próprio, estaria a condenar-se a si mesmo, por actuar de forma oposta à política externa do seu Governo.

A decisão de Aristides de Sousa Mendes de desrespeitar as ordens de Salazar revela-se como uma dupla arma:

- Com esse acto ele impõe uma derrota ao regime nazi e, simultaneamente, condena implicitamente a atitude de Portugal.


A legalidade nem sempre é a melhor aliada quando estão em causa os Direitos dos Homens, como foi o caso, e o diplomata, católico convicto, não hesitou em salvar seres humanos, inclusive os de outra religião...

“Tenho de salvar estas pessoas, tantas, quantas, eu puder. Se estou a desobedecer a ordens, prefiro estar com Deus e contra os homens, do que com os homens e contra Deus”, justificava.

A actuação de Aristides de Sousa Mendes, como Cônsul-Geral de Portugal em Bordéus, não é apenas um acto heróico, mas, acima de tudo, um acto de grande lucidez e estatura moral e humana: ele sabia estar a condenar-se a si mesmo e que esse era o preço a pagar pela opção em favor dos mais fracos de todos.


Mentiras e falsidades
que a ditadura e o fascismo forjaram…



Como resultado da sua desobediência às ordens do ditador Salazar, Aristides Sousa Mendes tinha caído em desgraça. Às acusações de ter passado vistos a pessoas que “pela sua nacionalidade” a eles não tinham direito, defendeu-se com a impossibilidade de estabelecer diferenças entre seres humanos e argumentou que, apenas, obedecera a razões de humanidade, que “não distinguem nem raças nem nacionalidades”.

Inexoravelmente, sem apelo nem agravo, acabaria por ser exonerado do cargo e, impossibilitado de trabalhar, ficando na miséria, motivo pelo qual, com a sua numerosa família, se viu obrigado a recorrer à cozinha económica da ‘Comassis’, da Comunidade Judaica de Lisboa.

Até 1954, o facto de ter “desobedecido” ao Estado Português tinha sido considerado mais importante do que a salvação de muitos dos perseguidos pelo nazismo…

Curiosamente, importa sublinhar, Portugal ficou na memória dos refugiados como um porto de abrigo, onde não se sentiram perseguidos por serem judeus e através do qual se salvaram, com a ajuda de uma população que consideraram hospitaleira e muito sensível aos seus dramas.

Atentos os factos, é pertinente sublinhar que, entre 1940 e 1954, Aristides de Sousa Mendes entra num processo de “decadência” humana, perdendo, mesmo, a titularidade do seu gesto salvador. Pois, na realidade, o ditador António de Oliveira Salazar e o seu regime, cínica e hipocritamente, também acabariam por se apropriar desse acto…

Através da propaganda do Estado Novo, os jornais do regime louvam Salazar. Portugal sempre foi um país cristão”, é o título de um Editorial do “Diário de Notícias”, do mês de Agosto de 1940, em que Salazar é louvado por ter salvado refugiados e fugitivos no Sul de França…

Por incrível que possa parecer, até o embaixador Pedro Teotónio Pereira, refere, nas suas “Memórias”, a acção de Aristides de Sousa Mendes como sendo de sua exclusiva iniciativa!...

O agradecimento é, por vezes, extensivo aos governantes, nomeadamente a Salazar, o mesmo ditador que castigou severamente Aristides de Sousa Mendes, por desobediência a ordens que a terem sido cumpridas, teriam impedido a salvação de milhares de refugiados.

Segundo Rui Afonso, biógrafo de Aristides de Sousa Mendes, o antigo cônsul em Bordéus assistiu à “suprema injustiça de se ver castigado ao mesmo tempo que Salazar e o regime político eram louvados”…
Conivência e discrição…

Por outro lado, importa não perder de vista que a actuação de Aristides de Sousa Mendes jamais viria a ser resgatada (o que só se verificaria após a ‘Revolução dos Cravos’, ocorrida em 25 de Abril de 1974), para desta forma, por contraste, não evidenciar a acção, a conivência, a negligência e a omissão de outros diplomatas e membros do governo do ditador António de Oliveira Salazar, que, durante a Segunda Guerra Mundial, se tornaram participantes, cúmplices e coniventes, embora de forma discreta e indirecta, da grande tragédia do Holocausto.


A Lista de Schindler…


Facto curioso, é também a importância atribuída a Oskar Schindler, (nasceu em 28 de Abril de 1908, em Zwittau, na Morávia, e faleceu a 9 de Outubro de 1974, em Hildesheim), que surgiu em 1944, quatro anos depois de Aristides de Sousa Mendes, cuja imagem e feitos foram amplamente divulgados, a nível mundial, pelo realizador norte-americano Steven Spielberg, através do filme "A Lista de Schindler", apontado entre os dez melhores filmes da história de Hollywood e vencedor do Óscar de 1994.

Em boa verdade, Oskar Schindler não passava de um “bon vivant”, um homem sem princípios nem escrúpulos, orientado por uma única ideia e ambição desmesurada: enriquecer.

Após a anexação dos Sudetos, em 1938, tornou-se membro do Partido Nazista e, como libertino e salvador, com a conivência dos soldados nazis, começa a interessar-se pelos judeus, única e exclusivamente, como mão-de-obra barata que utilizava na sua fábrica. Segundo consta, o número de vidas “salvas” não deverá ter ultrapassado 1 200 judeus, de entre homens, mulheres e crianças...

Durante a II Guerra Mundial tornou-se próspero, mas gastou o seu dinheiro com a ajuda prestada aos judeus que salvou e com empreendimentos que não deram certo após o término da guerra.

Referindo-se a Aristides de Sousa Mendes, Yehuda Bauer questionaria:

“Que dizer deste HOMEM, que, sozinho, contra tudo e contra todos, realizou a maior operação de salvamento da História do Holocausto?
Responda quem quizer. E souber.
Pessoalmente, confino-me ao mais respeitoso silêncio!...”



Filhos de Aristides de Sousa Mendes alistam-se
na Força Expedicionária Aliada
e participam no “Dia D”



Quando Aristides de Sousa Mendes e sua esposa Angelina estiveram em São Francisco, na Califórnia, Estados Unidos da América do Norte, ocorreu o nascimento de mais dois filhos, ambos do sexo masculino: Carlos Francisco Fernando e Sebastião Miguel Duarte, nascidos, respectivamente, em 1922 e 1923, que receberam a dupla nacionalidade, luso-americanos, como, aliás, a maioria dos seus filhos.

Anos mais tarde, com o deflagrar da II Guerra Mundial, os dois jovens pensaram que, possuindo a nacionalidade norte-americana, também podiam lutar contra os nazis, seus apoiantes e forças aliadas, e, de certa forma, vingar o pai…

Já em plena II Guerra Mundial, os dois filhos luso-americanos de Aristides de Sousa Mendes, alistam-se voluntariamente na Força Expedicionária Aliada e no “DIA D” desembarcam e participam na Batalha da Normandia. Posteriormente, foram enviados para locais diferentes perto da fronteira com a Alemanha.

Com a participação nesta acção, Carlos Francisco Fernando e Sebastião Miguel Duarte, filhos de Aristides de Sousa Mendes, deram sequência ao “combate” iniciado pelo pai, e, como luso-americanos, não só arriscaram a vida como, também, fizeram questão de “furar e desacreditar” a pseudo neutralidade de Salazar…


Reflectir e meditar: Um imperativo!


Embora muito mais se pudesse expender sobre a acção de Aristides de Sousa Mendes, o Embaixador de Portugal em França, Dr. Francisco Seixas da Costa, no seu Prefácio, sob o título A Diplomacia e a Ética Pública”, do Livro:

“De Aristides de Sousa Mendes a Austregésilo de Athayde
Patrimónios da Humanidade
Dois Percursos, Um só Objectivo
- Direitos Humanos –“
,

da autoria do jornalista Paulo M. A. Martins, que a seguir se transcreve, proporciona-nos uma visão transparente, objectiva, lúcida e eloquente sobre a atitude e o comportamento assumidos por Aristides de Sousa Mendes, e nos convida a uma reflexão e meditação tão séria quanto profunda – Um Imperativo!

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“Aristides de Sousa Mendes sofreu o choque emocional de uma situação de tragédia e, num instante que imaginamos deva ter sido de grande angústia, decidiu colocar-se do lado do que entendeu ser uma leitura ética, a qual, em face da sua formação humanista, assumia uma preeminência perante a fria lógica subjacente às ordens que recebia.

Para um diplomata, como para um qualquer outro profissional cuja acção se cruze com dimensões humanas e morais de grande importância, este tempo de tensão e de risco é, do mesmo modo, o momento da verdade. A verdade perante si próprio, perante aquilo em que se acredita, na luta interior resultante do conflito entre a ordem e a ética.

O caso de Aristides de Sousa Mendes é uma história notável que acarreta importantes lições de ética deontológica, a qual nos coloca perante a necessidade de ver o mundo através do prisma dos princípios, subalternizando pontualmente a mera obediência burocrática, que é o refúgio triste onde muitos atenuam a cobardia de uma decisão que pressentem errada.

O verdadeiro serviço público, de que Sousa Mendes era uma simples peça, deve ser, em si mesmo, portador de uma ética de comportamento que tem de estar acima da sua utilização oportunista pelos titulares episódicos do aparelho político. As ordens ilegítimas não merecem obediência, devem merecer resistência e oposição. Os grandes servidores públicos medem-se pelo modo como sabem interpretar o sentido do dever e do interesse colectivo, não devendo ser premiados pela acéfala aceitação de toda e qualquer instrução que recebem, por mais elaborada ou elevada que ela surja.

Na história da diplomacia portuguesa, Aristides de Sousa Mendes é um caso ímpar. Porém, tenho a sensação de que o Ministério dos Negócios Estrangeiros português poderá não ter ainda interiorizado o quanto o seu exemplo lhe pode vir a servir como valor referencial, como atitude a ponderar e a estudar, ao serviço de uma diplomacia de princípios que, de acordo com os grandes momentos da nossa História, sempre deve orientar a acção externa de um país como Portugal.”



………………………………………


Das acções laudatórias
às tentativas de descredibilização sucessivas …



O seu gesto humanista, que lhe valeu um abrupto final da carreira diplomática, com todas as suas consequências nefastas, só foi relatado e enaltecido depois de ‘25 de Abril de 1974’, principalmente pela imprensa, tendo sido reabilitado, a título póstumo, em 1988, pela Assembleia da República, sob proposta de vários deputados, de entre os quais, os Drs. Jaime Gama e Jorge Sampaio. Portanto, catorze anos depois da instauração do regime democrático em Portugal…

Contudo, Israel já havia homenageado Aristides de Sousa Mendes, “Um Justo entre as Nações”, plantando, em sua memória, na Floresta dos Mártires, junto ao Yad Vashem - o Museu do Holocausto -, um bosque com 30 mil árvores, simbolizando uma árvore por cada uma das vidas judaicas que salvou.

Assim como, a título póstumo, lhe foi atribuída uma medalha, em cujo reverso pode ler-se a citação do Talmude:

“Quem salva uma vida humana,
é como se salvasse um mundo inteiro”
.

Depois disso, muitas outras homenagens lhe foram prestadas, a título póstumo, em Portugal e no estrangeiro. Sem esquecer, apesar de não referidas, o valor e o significado de muitas outras. De realçar as condecorações portuguesas que lhe foram atribuídas: Ordem da Liberdade, Cruz de Mérito e a Grã Cruz da Ordem de Cristo.

Todavia, também, não são estranhas algumas intervenções que, não sendo novas e, muito menos, originais, se inserem em acções concertadas ou não, que visam denegrir e descredibilizar a sua memória, as quais, de tempos em tempos, vão surgindo na Comunicação Social portuguesa, nomeadamente, as expendidas pelo Professor José Hermano Saraiva nas suas “Memórias”, onde expressa uma admiração desmedida pelo ditador Salazar, assim como as do Embaixador João Hall Themido, na sua denominada “Uma Autobiografia Disfarçada”, editada e, segundo tem sido referido publicamente, custeada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, com verbas do erário público…

Quer uma quer a outra, assim como as demais, em matéria de honestidade cultural e credibilidade histórica, valem pelo que valem. Nada mais!


Para quando, os restos mortais
do Embaixador Aristides de Sousa Mendes
no Panteão Nacional, em Lisboa?…



>“…aqueles, que por obras valerosas
se vão da lei da morte libertando”…
Luís de Camões


Quanto a Portugal, falta, entre outros, assumir como acto de verdadeira Justiça a realização da Homenagem Nacional que lhe é devida por direito próprio.

Trata-se de uma atitude patriótica, que cabe aos poderes constitucionalmente constituídos chamar a si as iniciativas que se tornem imperativas em ordem à trasladação dos restos mortais do Embaixador Aristides de Sousa Mendes >(promovido a título póstumo pela Assembleia da República) para o Panteão Nacional, em Lisboa, onde repousam ‘Os Grandes Heróis Portugueses’, como o poeta épico Luís de Camões os cantou em “Os Lusíadas”, como sendo “…aqueles, que por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”…

Tal desígnio, infelizmente, parece estar cada vez mais distante, mais arredado, face à indiferença, ao esquecimento ou ainda ao desprezo evidenciado, ao longo dos tempos, por alguns desses mesmos poderes a quem, atentos os valores Humanistas que determinaram a imortalidade de Aristides de Sousa Mendes, pertence tão nobre quanto justa e patriótica decisão.

Para quando?...


CASA DO PASSAL
Um Monumento Nacional
à espera da derrocada final?…



Entretanto, a histórica Casa do Passal’, em Cabanas de Viriato, Viseu (Beira Alta), que foi propriedade de Aristides de Sousa Mendes, onde Angelina de Sousa Mendes, sua esposa, acolheu e matou a fome” a muitos dos fugitivos, no ano de 2005, foi classificada como Monumento Nacional. Nela, se pretende a criação de um Museu, assim como de um Cento de Memória e de Estudo da Tolerância, do Altruísmo e dos Direitos Humanos.

Situada numa encosta, com uma vista deslumbrante e soalheira, a nascente, sobre a Serra da Estrela, a ‘Casa do Passal’ encontra-se em avançado estado de ruína e de degradação, pairando, mesmo, a dúvida se conseguirá resistir a mais um rigoroso Inverno beirão…

Apesar de um esforço estóico de ‘voluntariado, para reparar o telhado da ‘Casa do Passal’, em 2004/5, a instabilidade voltou a pairar de novo, em 2008, aumentando de ano para ano, de mês para mês, até à sua derrocada final, perante a insensibilidade, a passividade, a irresponsabilidade e a incompetência dos Poderes Públicos instalados, que a classificaram e declararam de Monumento Nacional”, em 2005…

Notável, notabilíssima, de registar a adesão de quase 13 mil admiradores, sobretudo, de muita juventude, que se mobilizaram em torno da Memória de Aristides e Angelina de Sousa Mendes.

Se, de facto, esta enorme manifestação de boa vontade se puder transformar em recursos materiais, poder-se-á concluir que esta mobilização pode servir, também, para ajudar a desbloquear este projecto notável, complexo e de destaque internacional.

Na realidade, o avançado e imparável estado de ruína da ‘Casa do Passal’ ou ‘Casa de Sousa Mendes’, convida-nos a uma meditação e reflexão profundas, sobre o ‘Acto de Consciência’ em que o Cônsul de Portugal em Bordéus (França), Aristides de Sousa Mendes, salvou, em Junho 1940, nas vésperas da capitulação, cerca de 30 mil refugiados, oriundos de vários países da Europa invadidos pelas tropas nazis, desesperados em abandonar a França e seguir outros destinos providenciais, tais como Portugal e as Américas.

Habilita-nos, também, a sentir e a avaliar as terríveis consequências de um ‘acto de altruísmo heróico’, como o assumido por Aristides de Sousa Mendes, que acabou, também, por transformar o diplomata em refugiado e castigado, pois morreu desonrado e na miséria total. Inclusive, foi abandonado e votado ao esquecimento absoluto durante décadas...

Infelizmente, é este o quadro real e autêntico que se nos depara, quando se pretende comemorar condignamente o 125º. Aniversário de Nascimento de Aristides de Sousa Mendes…

Portugal, um país sem memória?…

Até quando?...



* * * * *


____________________________________________
Brasil, Fortaleza (CE), 13 de Julho de 2010

Paulo M. A. Martins
Jornalista,
radicado no Brasil, em Fortaleza (CE).

1 comentário:

  1. Prezado Paulo Martins:

    Seria difícil escrever mais e melhor e abarcando as diversas facetas que envolvem a chamada desobediência legal de Aristides de Sousa Mendes, pois ele agiu em legítima defesa de terceiros.

    Por isso, bravo por mais um excelente post sobre Aristides.

    Com efeito, é inteiramente oportuno lembrá-lo no 125º aniversário do seu nascimento.

    É um exemplo de bravura e de humanismo, como bem ilustra no seu belo texto, que subscrevo por completo.

    O nobre exemplo dele não pode ser esquecido!

    Para mim, como já escrevi no meu blogue, recentemente, Sousa Mendes é não só o maior Humanista português do séc. XX, como é também um verdadeiro Heroi Lusófono, pois, sem disdparar um tiro, nem sequer molestar niniguém, "armado" apenas com a sua caneta e com a sua coragem, salvou mais de 30.000 vidas humanas do holocausto.

    Um fraternal abraço.

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Caríssimas(os),
Minhas (Meus) Boas (Bons) Amigas(os),

Antes de mais, queiram aceitar as minhas afectuosas saudações.

Uma nova postagem está à vossa disposição em e, como tal,faço chegar ao vosso conhecimento, podendo, inclusive, desde já, se assim o entenderem, para além da leitura, produzir os vossos comentários.

Bem Hajam!

Paulo M. A. Martins