quarta-feira, 21 de julho de 2010

ANTÓNIO ALBERTO CORREIA CABECINHA * Faleceu um “histórico” da social-democracia e do sindicalismo de Portugal

Faleceu um “histórico” da social-democracia e do sindicalismo de Portugal

ANTÓNIO ALBERTO CORREIA CABECINHA



Para grande estupefacção minha e consternação profunda, pela mão do Jorge da Paz Rodrigues e do José Manuel Torres Couto, recebi, aqui, em Fortaleza (CE), Brasil, a nefasta notícia da morte do meu amigo e companheiro de lutas e combates políticos e sindicais, António Cabecinha, de 63 anos, uma referência por excelência para mundo livre e humanista. A cidade de Portalegre, no Alentejo, foi o palco do último adeus a António Cabecinha, onde agora jazem os seus restos mortais para a eternidade dos tempos.

Para trás, na memória do tempo, ficou um percurso caracterizado por uma militância invulgar que se desdobrou em várias frentes de intenso combate político e sindical: o Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, a UGT – União Geral de Trabalhadores, da qual foi um dos seus fundadores, e a Assembleia da República, onde foi deputado eleito pelo PPD/PSD – Partido Social Democrata.

À distância, falar de António Cabecinha não é fácil, mas nunca poderei esquecer que, na década de 80, por sua sugestão, através do António Valente Bento, do Miguel Camolas Pacheco e do José Pereira Lopes, me chegou o convite, com o rótulo: um imperativo da TESIRESD – Tendência Sindical Reformista Social Democrata, para integrar o Conselho de Gerência dos SAMS – Serviços de Assistência Médico-Social do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas. Em pouco mais de duas escassas horas, fui requisitado ao Crédit Franco-Portugais, onde exercia funções de chefia, para tomar posse imediata e assumir funções, depois de na véspera ter dado a minha concordância.

Daí em diante, foi a sucessão continuada dos nossos encontros regulares, particularmente no Restaurante “Caçula”, na Rua das Pretas, em Lisboa, onde conversávamos sobre a nossa actividade sindical e político-partidária.

Pela minha frente, tinha a presença de um verdadeiro combatente, a que por vezes, em outros locais, se associava a presença e a intervenção de Carlos Macedo, então Secretário de Estado dos Assuntos Sociais.

Três anos depois, com a minha ida para o Município de Sesimbra, onde estive a desempenhar as funções de deputado municipal e de vereador da Câmara Municipal, foi a interrupção do nosso contacto permanente.

De vez em quando, tinha o privilégio da sua visita, normalmente, seguido de jantar que se prolongava até altas horas da noite, assim como chegamos a ter encontros de trabalho com o Dr. Francisco Sá Carneiro na sua própria residência.

Mais tarde, quando na Docapesca - Portos e Lotas, SA, e no Ministério do Mar, onde era assessor do Gabinete do Secretário de Estado Adjunto e das Pescas, António Cabecinha, nas suas deslocações a Lisboa, sempre me privilegiava com as suas visitas e encontros, seguidos de longas conversas, onde escutava atentamente o seu conselho amigo.

Em todo este tempo de interacção e convívio, não posso esquecer o desgosto que o invadiu profundamente: a extinção da TESIRESD e a criação dos Sócio-Profissionais do PSD. Foi no Congresso do PSD, em Braga, com o Professor Mota Pinto, onde estive, presencialmente, como delegado pela Concelhia de Sesimbra. Um “espectáculo” doloroso e para esquecer, mas que, por muito que não queiramos, nos vem sempre à memória…

António Cabecinha, já antes, no Congresso da TESIRESD, na Foz do Arelho, onde não estive, e, depois, no Congresso do PSD, em Braga, doloroso, de lágrimas a rolarem-lhe no rosto, mais parecia um pai que havia perdido o seu filho amado, enquanto os “traidores” se vangloriavam com a “vitória” alcançada…

Depois, paulatinamente, foi o “enterro definitivo” da actividade sindical social-democrata, enquanto alguns dos seus mentores se foram transferindo, de armas e bagagens, para o Partido Socialista, pois terem a oportunidade de serem “deputados” e usufruírem de outras “benesses político-partidárias” é outra história, cujos resultados são sobejamente conhecidos, sempre cumulados por sucessivas “traições”…

Hoje, António Cabecinha já não se encontra entre nós, no mundo dos vivos, mas a sua memória perdurará pelo exemplo ímpar de combatividade, sem precedentes, que nos transmitiu e galvanizou. Com o seu nefasto desaparecimento, a Democracia portuguesa, o PSD – Partido Social Democrata e, sobretudo, o Sindicalismo de face Humanista ficaram mais pobres…

Obrigado por tudo, Companheiro!

Paz à sua alma!

Como palavra final, só espero que a UGT – União Geral de Trabalhadores lhe preste o reconhecimento e a Homenagem que, por direito próprio, lhe são devidos!

Paulo M. A. Martins
Fortaleza (CE), Brasi

1 comentário:

  1. Caríssimo amigo e companheiro:

    Quando recebi a notícia, aqui, em Espanha, onde me encontro de momento, nem queria acreditar e, por isso, pedi ao Torres Couto que ma confirmasse.

    Infelizmente era verdade!

    Perdemos um bom amigo e companheiro e a social-democracia está mais pobre desde domingo, com a morte inesperada do António Cabecinha, com quem compartilhei muitas lutas político-sindicais.

    Faz o emu amigo bem em narrar certos pormenores, mas a grande verdade é que sem ele e poucos mais, a TESIRESD, como associação autónoma e independente, não teria conseguido, mediante acordo com a tendência sindical socialista, a criação da Central Sindical democrática, a UGT.

    Também escrevi no meu blogue um singelo elogio a este corajoso companheiro e espero que a UGT não se fique pelo comunicado que emitiu.

    Mesmo o próprio PSD teve nele um grande e lúcido militante, que depois foi ostracizado, como eu e o meu amigo, só porque éramos social-democratas coerentes e queríamos que o PSD o fosse, seguindo o caminho traçado por esse grande estadista que foi F. Sá Carneiro, o qual, mesmo quando já era PM, não se coibia de pedir a opinião dos sindicalistas.

    Espero e desejo que o exemplo de António Cabecinha frutifique e, embora os tempos sejam diferentes, a sua coragem e dignidade ilumine os social-democratas da nova geração.

    Que o António descanse em Paz!

    Um fraternal abraço para o meu amigo, que, comno eu, é um "sobrevivente",

    Jorge da Paz Rodrigues

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Caríssimas(os),
Minhas (Meus) Boas (Bons) Amigas(os),

Antes de mais, queiram aceitar as minhas afectuosas saudações.

Uma nova postagem está à vossa disposição em e, como tal,faço chegar ao vosso conhecimento, podendo, inclusive, desde já, se assim o entenderem, para além da leitura, produzir os vossos comentários.

Bem Hajam!

Paulo M. A. Martins