domingo, 7 de agosto de 2011

PORTUGAL: QUE PAÍS É ESTE?...Quo Vadis Europa?

Momentos de Reflexão... (IV)


PORTUGAL: QUE PAÍS É ESTE?...
Quo Vadis Europa?



Paulo M. A. Martins ( * )
Jornalista
_____________________
paulo.m.a.martins@gmail.com

( Em Portugal )

Portugal atravessa, hoje, um dos mais críticos e dramáticos períodos da sua História contemporânea: política, económica, social e ambiental, o que nos sugere uma reflexão profunda, séria e responsável quanto aos seus destinos - ao seu futuro! - como País e como Nação.

Se, em 25.Abril.1974, com a Revolução dos Cravos, foi o rasgar de novos horizontes, o abrir de portas a novas esperanças e a um futuro de LIBERDADE e DEMOCRACIA, hoje, dada a evolução dos acontecimentos na Europa dos Doze, depois alargada a 27 Países-membros, poder-se-á, sem margem para dúvidas, concluir que Portugal, já no abismo, está a atravessar um período bastante crítico, um verdadeiro pesadelo, cujas consequências mais drásticas e mais gravosas, segundo alguns analistas políticos e os "entendidos", ainda estão por chegar!...

Inclusive, já se fala, insistentemente, à boca cheia, que o próximo Outono, após as férias grandes, será uma verdadeira caixinha de surpresas...

Para o pior!

Será, mesmo?...


Portugal num relance...

... A Deus o que é de Deus,
a César o que é de César!

Depois de vários anos sob as tutelas dos militares, do Partido Comunista Português e dos seus satélites, que quase conduziram Portugal para a bancarrota e para o totalitarismo de esquerda, fazendo perigar seriamente a Democracia e a Liberdade, com o Povo nas ruas a protestar e a reagir a todas essas ofensivas, ditas "revolucionárias" e "aventureiristas", a sociedade civil tinha que reagir, como, de forma inequívoca, reagiu nas primeiras eleições livres, em 1975, ao dar a vitória ao Partido Socialista.

Durante o período revolucionário que ficou conhecido como o PREC (Processo Revolucionário Em Curso) foi o principal líder civil da área democrática, Mário Soares, que, tendo conduzido o Partido Socialista à vitória nas eleições para a Assembleia Constituinte de 1975, então Primeiro-Ministro do IX Governo Constitucional, quem, em Dezembro de 1984, vendo as dificuldades avolumarem-se, conseguiu obter do então presidente em exercício da CEE, o irlandês Garret Fitzgerald, um "Constat d´accord", assegurando que a adesão seria concretizada. E foi ele, sem dúvida, quem mais se bateu pela ideia europeia em Portugal.

Mário Soares percebeu, muito antes de toda a sociedade aderir ao projecto, que, para Portugal, após a independência das suas colónias, a Europa era o único destino possível, que não só ajudaria a modernizar o país como garantia, definitivamente, que não haveria nenhum retrocesso no processo democrático iniciado em 25.Abril. 1974.

Já na recta final da adesão, Mário Soares enfrentou uma nova turbulência.

Em 1985, a situação política alterou-se subitamente. A escolha de um novo líder do PSD - Partido Social Democrata, Professor Aníbal Cavaco Silva, pôs fim ao Governo do Bloco Central, a aliança entre socialistas e sociais-democratas que governava o país desde 1983.

A convocação de eleições antecipadas tornou-se um imperativo.

O cepticismo do Professor Aníbal Cavaco Silva, face à Europa, aumentou os riscos de o Tratado de Adesão à CEE - Comunidade Económica Europeia não ser assinado.

Mário Soares lançou então todo o seu peso político na tarefa e, a 12 de Junho de 1985, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, quatro representantes do Governo português apuseram a sua assinatura no novo Livro da Europa dos Doze: o próprio Mário Soares, então Primeiro-Ministro, Jaime Gama, Ministro dos Negócios Estrangeiros, Ernâni Lopes, Ministro das Finanças, e Rui Machete, Vice-Primeiro Ministro, em representação do PSD. Apesar das suas reticências, o Professor Aníbal Cavaco Silva percebeu, finalmente, que os sociais-democratas não podiam ficar desligados de um acontecimento histórico.

Em Outubro, o PSD obtinha uma maioria relativa nas eleições legislativas e o Professor Aníbal Cavaco Silva iniciava a sua caminhada como Primeiro-Ministro durante uma década e, actualmente, Presidente da República de Portugal, em segundo mandato.

A 1 de Janeiro de 1986, Portugal tornou-se membro de pleno direito da Comunidade Económica Europeia. Hoje, decorrido pouco mais de um quarto de século, só vêm provar que Mário Soares estava relativamente certo: Portugal tornou-se uma história de sucesso relativo na União Europeia.

"Hoje, olhando para trás e para o percurso de Portugal, se há alguém que pode legitimamente colher os louros da adesão à CEE, esse alguém chama-se Mário Soares. Na oposição à ditadura, como dirigente partidário e deputado, como ministro dos Negócios Estrangeiros e Primeiro-Ministro – e mais tarde como Presidente da República -, a Europa foi sempre uma ideia fixa e um projecto."

Nuvens negras... Ou não há bela sem senão...

Todavia, importa não esquecer e sublinhar que, Mário Soares, enquanto Primeiro-Ministro, institucionalizou a maior vergonha nacional, no que concerne à prestação de serviços, sem expectativas extraordinárias para os primeiros tempos: Os "recibos verdes" (contratos a prazo), que ainda hoje perduram, constituindo uma verdadeira aberração social e, sobretudo, económica.

Foi a institucionalização, preto no branco, de trabalhadores de primeira e de segunda categorias, que todos os sectores empresariais, sem nenhuma excepção, acolheram entusiasticamente.

Uma retumbante vitória do Capital sobre o Trabalho!

Tão longe foi, que, inclusivamente, o próprio Estado acabaria por enveredar por esse caminho tão desumano, humilhante, degradante e sinuoso, ao designar esses trabalhadores de "tarefeiros"...

Estavam abertos os caminhos para a liberalização dos mercados de trabalho...

Por outro lado, foi, também, por sua iniciativa que o FMI - Fundo Monetário Internacional, cujos objectivos são os de promover a cooperação monetária internacional, fornecendo um mecanismo de consulta e colaboração na resolução dos problemas financeiros; favorecer a expansão equilibrada do comércio, proporcionando níveis elevados de emprego e trazendo desenvolvimento dos recursos produtivos; oferecer ajuda financeira aos países membros em dificuldades económicas, emprestando recursos com prazos limitados e contribuir para a instituição de um sistema multilateral de pagamentos e promover a estabilidade dos câmbios, veio, pela primeira vez instalar-se Portugal.

Actualmente, por iniciativa do então Primeiro-Ministro socialista, José Sócrates, o FMI encontra-se, de novo, em Portugal, para "ajudar" o país a sair dos graves problemas resultantes de uma governação louca, irresponsável, incompetente e desastrosa desenvolvida ao longo dos últimos seis anos, agravados pela grave crise económica internacional, sobretudo, a Europeia...

Subordinação do poder político ao poder económico

Também a Banca, depois de um período muito conturbado, imediatamente a seguir ao 25 de Abril, caracterizado por muita agressividade, tem vindo paulatinamente a ganhar terreno  e a impor as suas estratégias, individuais e de grupo, fazendo subordinar o poder político ao poder económico!

Do dia para a noite ou da noite para o dia, se sacrificaram, se imolaram, várias economias reduzindo-as a pó! A expansão em espiral da "globalização" também produziu os seus efeitos nefastos, reduzindo os trabalhadores a um novo tipo de exploração do homem pelo homem, a uma nova escravatura!

O poder económico, onde os Bancos, ditam inexorável e agressivamente as suas leis, agora, mais do que, nunca ditam as suas leis ao poder político. Decididamente, ignoram o que deveria ser a sua função social, para dar lugar a um desumanismo atroz, sem precedentes!

Comparando...

Perdoem-me algumas comparações, mas a evolução (negativa) dos tempos para aí me "conduziram"...

Nos tempos em que Adolfo Hitler, na Alemanha, conduzia a unificação da Europa e à purificação da raça, os jovens que integravam as designadas "Juventudes Hitlerianas" erguiam os seus braços e faziam a saudação, pronunciando, em voz bem alta: Hitler! Hitler! Hitler!

Também, nos tempos do Estado Novo, os jovens da então Mocidade Portuguesa e não só, ao nível das escolas, ainda na instrução primária, diariamente, no início das aulas, erguiam os seus braços e, em coro, faziam a saudação: Salazar! Salazar! Salazar!

Tudo isto e não só, se passou nos tempos dos meus pais!

"novo e hegemónico federalismo"...

Hoje, assiste-se, de novo, a um novo ciclo! É a História que se repete, embora sob fundamentos e motivações diferentes...

Entretanto, entre outros fenómenos, verificou-se a queda do "Muro de Berlim" e o desmoronamento do regime da então União Soviética, criando todo um vazio que, agora, sob o ponto de vista económico, parece querer emergir sob a batuta da Chanceler Alemã, Ângela Merkel: A nova unificação da Europa, agora, através de um "novo e hegemónico federalismo".

Enquanto isto, paulatinamente, a Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e a Espanha já tombaram na apreciação das Agências de Notação Internacionais, nomeadamente, a Moody's, cujos tentáculos ultrapassam largamente o seu espaço territorial de análise para se estenderem pelo mundo inteiro...

Assim como, a própria União Europeia já concluiu pela criação de uma Agência de Notação Europeia...

Agora, quer se queira quer não, não são só os aspectos económicos que estão em causa. Os políticos, também! Tanto mais, porque as políticas são determinadas, fundamentalmente, pelos interesses económicos. Não se olhando a meios para se atingir os fins (inconfessáveis) de uns e de outros...

Perante este cenário, urge questionar: Para onde caminha a União Europeia?

No quadro interno, interroga-mo-nos, seriamente, que Portugal é este?

Vejamos e analisemos:

·        Em 2010: Mais de cem mil portugueses emigraram, procuraram novos países, novos destinos!
·        O desemprego, com todas as suas consequências nefastas, continua a subir em espiral!
·        O número de falências de empresas continua a aumentar!
·        Os pobres estão cada vez mais pobres, inclusive, abaixo do limiar da pobreza!
·        Os reformados e pensionistas estão cada vez mais desprotegidos e entregues à sua sorte!
·        Os trabalhadores activos, cada vez mais, são chamados a suportar as despesas resultantes da má governação, por falta de objectivos políticos e económicos!
·        O sistema bancário, cada vez menos, assume a sua função social, arrecadando vultuosos lucros e aplicando no "ágio" os altíssimos volumes de capitais mobilizados!
·        O Governo governa, exclusivamente, para atingir as metas determinadas pelo FMI e outros organismos de crédito internacionais!
·        O Presidente da República, Professor Aníbal Cavaco Silva, apesar dos seus "recados" de circunstância, passa despercebido e indiferente por entre os pingos da chuva!
·        As Forças Armadas que, tão generosamente, fizeram o 25 de Abril de 1974 - A Revolução dos Cravos, saltaram das casernas para as ruas para resolver os seus problemas, particularmente os "Oficiais Milicianos", não pertencentes aos quadros, e impuseram uma solução política para que se resolvesse a questão da Guerra no Ultramar, hoje, mesmo sob ameaça de falta de dinheiro para o pagamento do Subsídio de Natal e dos salários de Dezembro, onde estão?  O que fazem?
·        Os deputados da Assembleia da República e os Partidos Políticos nela representados, com as suas patéticas e incompetentes intervenções políticas, estão à espera de quê? Que o Povo Português pague a factura de toda a sua parasitagem escandalosa e incompetente?
·        Saúde, Educação e Justiça acabaram por se tratar de letra morta no léxico português! Os resultados, pela negativa, estão à vista, são bem visíveis no dia-a-dia!

Entretanto, até parece que estamos a voltar aos tempos de tão triste memória da antiga União Nacional, quando vemos pessoas a dizer e a escrever que, com o actual Governo, agora sim, é que estamos bem!

Será?...

É este o Portugal que tanto insistem em "vender" e atrair capitais internacionais para investimento interno?

É esta a Europa preconizada por Jean Monnet, fundador da CEE - Comunidade Económica Europeia?

Lisboa (Portugal), 07.08.2011

Paulo M. A. Martins
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(*) Jornalista Luso-brasileiro, radicado em Fortaleza, Estado do Ceará, Brasil

3 comentários:

  1. .Que estou fazendo aqui, lendo isto?

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  2. Meu caro Paulo Martins:

    A história é conhecida de todos, só os distraídos ou indiferentes é que não a sabem ou não querem saber.

    Só uma correção: não foi unicamente Mário Soares que "descobriu" a Europa. Se recuarmos bem a 1974 e a 1975, também o fundador e primeiro líder do PSD, F. Sá Carneiro, defendia a entrada de Portugal na Europa e fez várias viagens ao estrangeiro sempre proclamando esse objetivo: integração de Portugal na então CEE. Mário tinha porém mais "amigos" na Internacional Socialista e até conseguiu impedir que o PSD nela se integrasse. Eu ainda me lembro muito bem das autênticas "sacanices" que Mário Soares então fez só para o "seu" PS ter todos os apoios...

    Mas isso agora pouco importa. Importa sim que por causa de nos termos endividado demasiadamente, quer o Estado, quer os particulares, recorrendo demasiadamente ao crédito, especialmente a partir dos governos de Guterres, agora temos que consequentemente de pagar, por termos vivido acima das nossas possibilidades.

    Portanto, só há um caminho: trabalhar/produzir, exportar, poupar/investir e pagar o que se deve!

    É essa a principal tarefa do atual governo e não adianta outra coisa que não seja cumprir os nossos compromissos. Se não o fizermos é que entramos na bancarrota.

    Um grande abraço

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  3. Caríssimo
    Dr. Jorge da Paz Rodrigues,

    Como é do seu conhecimento, por uma questão de princípio, eu não tenho por hábito comentar e ou discutir os comentários que, quem quer que seja, exare do meu blogue. Hoje, muito excepcionalmente, faço-o com muito prazer. Assim como, citando o Poeta Fernando Pessoa, "sou do tamanho do que os meus olhos vêem, não do tamanho da minha altura".

    Antes de mais, para que não subsistam dúvidas, ao referir-me ao Dr. Mário Soares, então Primeiro-Ministro de Portugal, fi-lo porque se trata de um facto, hoje, consagrado nos anais da nossa História. Quer se queira, quer não, foi ele quem assinou o "Constat d'Accord"!

    Se se pretender relatar a cronologia desse facto, importaria sublinhar que, ainda no tempo do anterior regime, de má memória, também se deram passos significativos, ao ponto de a CEE ter canalizado apoios e subsídios para Portugal, quando ainda era membro da EFTA.

    É incontornável o esforço estóico desenvolvido pelo Dr. Francisco Sá Carneiro, enquanto líder do PSD; assim como, de sublinhar o cepticismo sempre evidenciado pelo Professor Aníbal Cavaco Silva, actual Presidente da República, enquanto recém líder dos sociais-democratas...

    Em minha opinião pessoal, o Dr. Francisco Sá Carneiro, um meteoro que passou pela política portuguesa, foi, indiscutivelmente, o Maior Estadista Português do século XX!

    Na época, quando no exercício das funções de secretário-geral da SEDES, foram promovidas duas Sessões Públicas, para análise da situação política em Portugal, nas quais os Drs. Mário Soares e Francisco Sá Carneiro foram os oradores principais. Tal como os presentes, também tive o privilégio de ouvir e sentir o que um e o outro disseram, posteriormente, relatado pela Comunicação Social.

    Tenho perfeita consciência do que escrevo e falo, assim como de transmitir o que penso. Todavia, por muito que me esforce, não consigo dissociar-me da condição de português, cidadão e jornalista. Nunca, em circunstância alguma, omiti a minha matriz ideológica de "social-democrata". Pelo que, não me assiste o direito de agredir quem quer que seja. Sem pôr em causa os meus princípios, para ser respeitado, todos respeito, no mesmo pé de liberdade, igualdade e fraternidade

    No caso contrário, tornar-me-ia num faccioso, fundamentalista, tendencioso, sectário, etc.

    Só assim, no meu entendimento, se pode fazer ecoar bem alto os símbolos
    da Liberdade, da Democracia e do Humanismo!

    Desde já, fico-lhe muito grato pelo seu douto comentário!

    Queira aceitar o meu fraterno abraço!

    Até sempre!

    Paulo M. A. Martins

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Caríssimas(os),
Minhas (Meus) Boas (Bons) Amigas(os),

Antes de mais, queiram aceitar as minhas afectuosas saudações.

Uma nova postagem está à vossa disposição em e, como tal,faço chegar ao vosso conhecimento, podendo, inclusive, desde já, se assim o entenderem, para além da leitura, produzir os vossos comentários.

Bem Hajam!

Paulo M. A. Martins