segunda-feira, 4 de julho de 2011

PORTUGAL, QUO VADIS?

Primeiro-ministro de Portugal,
Dr. Pedro Passos Coelho


PORTUGAL, QUO VADIS?


"... com um pouco de muito boa vontade, aqui deixo o meu benefício da dúvida..."




Paulo M. A. Martins (*)
Jornalista
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(Em Portugal)

Infelizmente, assistem-me sérias reservas quanto ao actual Primeiro-ministro, Dr. Pedro Passos Coelho, e o seu Governo, assim como ao universo de "espectadores de bancada" que por aí persistem em proliferar.

Mudam-se os tempos, viram-se as casacas.

Freneticamente, colocam-se em bicos de pés e todos batem palmas, como se, de facto, as primeiras decisões fossem tão "brilhantes" como aparentam ser e fazer crer!...

Sem honra e sem glória, após as eleições legislativas, José Sócrates, a título de ir "estudar" Filosofia para Paris, já zarpou ou vai zarpar para um qualquer paraíso dourado algures em qualquer país da Europa, deixando-nos ainda bem viva e sofrida a triste memória dos seus incompetentes, miseráveis e graves desmandos governativos que praticou, que conduziram Portugal ao seu actual estado caótico de penúria política, económica, social e cultural, o que originou, entre outras, a intervenção do FMI e da sua "troika"...

Só a título de exemplo, Pedro Passos Coelho e a sua comitiva, há dias, voaram até Bruxelas, utilizando a "classe turística", para ver antecipados os subsídios da União Europeia, enquanto outros, no passado, ainda bem presente, requisitavam aviões à Força Aérea Portuguesa que, depois, ficavam e estão ainda estacionados (imobilizados) nas pistas dos aeroportos militares e nos hangares por falta de pagamento dos serviços prestados (o Estado deve ao Estado) e a consequente falta de acessórios, manutenção e não só...

Com esta atitude, o actual Primeiro-ministro acaba de revelar um fraco sentido sobre a "dignidade do Estado", enveredando pelos caminhos mais sinuosos do "populismo barato", para impressionar, talvez, mais os insectos do que as pessoas.

Enquanto tudo isto e não só, a frota de automóveis afecta aos Governantes continua a crescer, cada vez mais, pela aquisição desmesurada de "viaturas" topo de gama, assim como já se anuncia o Programa do XIX Governo Constitucional a ser discutido para aprovação pela Assembleia da República.

Anunciam-se, assim, entre outros, o aumento de determinados impostos, nomeadamente o IVA já em Julho próximo e, ainda no corrente ano, sobre o que excede o salário mínimo nacional, o corte de 50%, nos subsídios de Natal...

Quanto ao aumento em espiral do desemprego e da pobreza, sempre em número crescente, nem vale a pena falar, que, a partir de agora, vai aumentar exponencialmente, assim como de empresas a encerrarem a sua actividade.

Neste contexto, é, também, o caso das denominadas rescisões amigáveis na Função Pública e não só. Injecta-se "dinheiro novo" nos mercados que depois acaba por se "evaporar", através de um brutal aumento de consumismo, onde passa a proliferar o esbanjamento de recursos pelas famílias, que inevitavelmente conduz ao empobrecimento.

Por outro lado, é, também, a libertação de postos de trabalho para, depois, noutra fase, tudo leva a crer, serão preenchidos, total ou parcialmente, pelas novas "clientelas", sobretudo as partidárias, onde, em cujos Organismos e Empresas, os antigos titulares vão permanecendo sob o regime de "Recibo Verde" auferindo, por vezes, valores superiores, o que concorre para uma diminuição fictícia do desemprego, que continua a crescer desmesuradamente...

Tudo "bons" rapazes, tudo bons rapazinhos...

Será que já não existe ninguém capaz de repensar Portugal e de fazer um planeamento adequado às verdadeiras e trágicas realidades em que o País se encontra mergulhado?

Ou, será que nos tornámos um país de alienados e de embriagados pela cegueira imposta pelos "aprendizes" da política, que, durante mais de três décadas, fizeram de Portugal um verdadeiro laboratório de experiências, cujo objectivo é, mais do que nunca, "governarem-se" enquanto é tempo, assumindo a atitude de "os cães ladram enquanto a caravana passa"...

Mais parecendo uma manta de farrapos, Portugal cai a um ritmo vertiginoso, mas, ao que parece, ninguém está atenta e só falta bater as palmas na hora da sua derrocada final...

Mas, quanto aos autores desta situação, com o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, a olhar para o lado e a enviar "recadinhos", através das suas intervenções públicas, nem se ousa falar neles e ou chamá-los à responsabilidade, civil e criminal.

É, a título de exemplo, o caso, sistemático, do apagamento dos ficheiros informáticos (delete), ao nível dos gabinetes cessantes, sempre que mudam os governos e não só, o que provoca uma descontinuidade de informação, muitas vezes de difícil ou impossível recuperação, causando graves transtornos e prejuízos à gestão corrente dos negócios de Estado, assim como aos seus utentes...

Neste quadro, não pense o Primeiro-ministro que tem uma maioria confortável na Assembleia da República, pois, logo no início dos seus trabalhos, o PSD - Partido Social Democrata e a maioria que o apoia, o CDS, não foram suficientemente convincentes em fazer eleger o Presidente da Assembleia da República, obrigando a uma segunda escolha, que, no meu entendimento, quanto à personalidade escolhida e eleita, foi correcta e acertada.

Quanto à futura interacção da coligação, Deus se encarregará de revelar a sua verdadeira estratégia e trajectória...

Enquanto isto, mantém-se activo, ao rubro, o quadro político, económico e social da Grécia, onde não se sabe como tudo irá terminar, enquanto a UE - União Europeia se tem revelado abstracta, inactiva e impotente, em fuga para a frente, face à evolução dos acontecimentos...

Em Bruxelas, Durão Barroso, seu actual presidente, vai preconizando, em surdina, através de "recados", o aumento dos impostos comunitários, como se fosse essa a verdadeira causa do estado a que chegou a Europa comunitária.

Haja, isso sim, a coragem de reconhecer e, como tal, tomar as devidas providências, da necessidade, urgentíssima, de se repensar a União Europeia, hoje, transformada num "saco de gatos" e desenraizada do verdadeiro espírito de Jean Monnet, onde, apesar da forte crise financeira que fez estremecer o Mundo inteiro, particularmente a Europa, os países ricos estão, cada vez mais, mais ricos e os pobres mais pobres, exercendo, directa ou indirectamente, a hegemonia de uns sobre os outros...

A Europa, quer se queira quer não, está a atravessar uma crise profunda, inclusive, a partir da sua própria matriz, cuja identidade, ao longo dos tempos, tem vindo a ser fortemente desvirtuada.

Agora, em Portugal, após a tomada de posse e entrada em funções do novo Executivo governamental, está em curso um "período de graça", mas, pelo andar da carroça, segundo nos revela o Programa do XIX Governo Constitucional, já se começa a vislumbrar um longo período de tormentos, desgraças e pesadelos, sobretudo, para as famílias que são sempre as mais penalizadas e pagam a factura, sempre crescente, do Estado.

Vamos continuar a aguardar por mais surpresas!...

Para infelicidade nossa, coisas boas não virão, certamente, e as que vierem só tenderão para agravar ainda mais os actuais quadros político, económico, social e cultural.

Será que o tecido social português vai conseguir resistir, ainda, a mais esta investida do novo governo?

Infelizmente, tal como escrevi, no passado, nos governos de José Sócrates, neste "período de graça", as minhas dúvidas são severamente reservadas, mas, para bem de Portugal e tranquilidade e bem-estar dos meus compatriotas, bem gostaria de estar errado...

Mas, apesar de tudo, com um pouco de muito boa vontade, aqui deixo o meu benefício da dúvida...

Lisboa (Portugal), dia 1º. de Julho de 2011

Paulo M. A. Martins
(Em Portugal)
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(*) Jornalista luso-brasileiro,

radicado no Brasil, em Fortaleza, Ceará.